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Com robótica e trabalho em equipe, crianças da Rede Municipal de Ensino transformam aprendizado em iniciativas inovadoras

Dentro de ginásios escolares lotados, com olhos atentos e mãos firmes sobre blocos de Lego e laptops, crianças da Rede Municipal de Ensino de João Pessoa estão fazendo mais do que apenas competir. Estão criando, raciocinando, socializando e, sobretudo, aprendendo. O 2º Torneio Pessoense de Robótica, promovido neste mês de junho pela Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria de Educação e Cultura (Sedec), transformou o que muitos ainda veem como ‘brinquedo’ em um portal para o futuro — onde programação, ciência e trabalho em equipe se encontram no cotidiano de estudantes ainda no Ensino Fundamental.

Além de programar e montar robôs, os alunos desenvolvem raciocínio lógico, habilidades sociais e interesse por ciências e tecnologia, se tornando protagonistas na aprendizagem e na solução de problemas do mundo real. A iniciativa integra os princípios da metodologia STEAM — que une Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática — e coloca a robótica como instrumento de aprendizagem significativa e interdisciplinar.

Segundo Diego Sérgio, diretor de Tecnologia da Informação e Comunicação da Sedec, a robótica é apenas o ponto de partida. “Apesar de chamarmos de torneio, aqui todos são vencedores. Eles estão celebrando ciência e tecnologia com projetos desenvolvidos ao longo de meses com seus professores, dentro de temáticas globais como a vida nos oceanos”, destacou.

Com base na temática ‘Submerge’, os alunos foram desafiados a pensar soluções para problemas reais ligados aos oceanos, como o aquecimento global e a poluição marinha. “As crianças não apenas criam robôs, mas propõem soluções com sensores, motores, programação e maquetes — tudo com embasamento científico e foco na sustentabilidade”, explicou Diego Sérgio.

João Pessoa atualmente sedia uma etapa própria da maior competição mundial de robótica educacional, a First® Lego® League (FLL), graças ao número crescente de equipes e ao investimento robusto da gestão municipal.

O secretário municipal de Ciência e Tecnologia, Guido Lemos, destacou que mais de 11 mil alunos da Rede Municipal já passaram por formações em robótica e programação, com acesso universal a kits Lego®, laboratórios Maker, impressoras 3D e cortadoras a laser. “Essa talvez seja a maior obra da atual gestão: oferecer desafios de verdade, com tecnologia de ponta, para crianças que antes não tinham acesso a nada disso. Estamos formando um ecossistema de inovação desde os primeiros anos de escola”, frisou.

O torneio é avaliado por uma equipe de juízes vindos de vários estados, garantindo isenção. Entre eles, o professor Artur Gustavo, que explicou que os critérios vão além da montagem do robô. “Analisamos desde a apresentação oral até o domínio da programação, a organização do pôster e a criatividade das soluções. Tudo conta”, ressaltou.

Maria Eduarda de Brito Oliveira, graduanda em Sistemas de Informação e também juíza, resumiu a experiência como inspiradora: “É emocionante ver o brilho nos olhos das crianças. Elas já pensam como inovadoras”, disse.

Maker, robótica e mudança de mentalidade – Luciana Dias, secretária executiva de Educação e Cultura, reforçou que os ganhos se estendem à sala de aula tradicional. “Eles se tornam mais atentos, participativos, questionadores. Começam a discutir conteúdos que nem fazem parte do currículo da sua série, e isso amplia os horizontes acadêmicos e sociais”, garantiu. Segundo ela, os professores percebem melhorias no comportamento, no rendimento escolar e até no ambiente familiar.

Um desses professores é Manoel Venâncio, da Escola João Medeiros, do Bairro dos Novais, que orientou a equipe Tortuguitas. Ele relatou que as alunas desenvolveram um projeto para recolher lixo marinho e proteger as tartarugas, unindo tecnologia e sustentabilidade. “Com isso, passaram a se preocupar mais com o meio ambiente e perceber que também podem mudar o mundo. Elas entenderam que esse não é um tema só de gente grande”, revelou.

De acordo com o professor, a robótica também tem efeito direto sobre as habilidades sociais. “Tínhamos alunas com dificuldades em sala de aula e em casa. Depois que entraram na robótica, melhoraram o comportamento, as notas, a autoestima. Os pais agradecem. A escola se tornou mais significativa para elas. O impacto do projeto extrapola as paredes da escola”, relata o professor Manoel.

Com apenas 10 anos, Kétilly Júlia — engenheira da equipe Tortuguitas — já sabe que robótica é muito mais do que montar peças. “Aprendi a programar, pesquisar e trabalhar em equipe. Me diverti com minhas amigas. Tudo fica melhor quando a gente faz junto”. A colega Mayra Ferreira, programadora veterana da mesma equipe, explica com naturalidade. “Uso peças de palavras para programar. Gosto de aprender brincando e de ensinar também. Quando minha amiga não sabia programar, fizemos juntas”.

A aluna Sara Vitória, de 9 anos, pesquisadora da mesma equipe, fala com desenvoltura sobre tubarões abissais e biodiversidade oceânica. “Aprendi a trabalhar em equipe e aceitar as ideias das outras. Foi bom demais”. Laísa Maria, capitã da equipe, resume o espírito coletivo. “Tem que ter responsabilidade com as peças, com os colegas, com tudo. Porque, se não, dá problema. E a gente não quer problema. A gente quer fazer tudo direito”, complementou.

Segundo a professora Rayssa Vilar, que atua nas formações pedagógicas de robótica e cultura Maker, os ganhos são múltiplos. “Na Maker, eles criam do zero. Na robótica, resolvem problemas com base em tecnologia. Em ambas, aprendem a trabalhar em equipe, lidar com erros, ajustar rotas. Isso muda a cabeça deles.” Ela observa também que muitos alunos que eram tímidos, inseguros ou desmotivados passaram a se destacar. “A autoestima cresce. Eles se sentem parte de algo grande”, evidenciou.

O torneio não é um espetáculo isolado, mas a culminância de um processo transformador, onde os alunos descobrem seu potencial lógico, criativo e colaborativo ao mesmo tempo em que constroem conhecimento. As crianças da Rede Municipal de Ensino de João Pessoa já entenderam o essencial da robótica: resolver problemas — começando pelos do mundo e aprendendo, no caminho, a transformar a si mesma.

Mais do que disputar medalhas, o torneio consolida uma política pública robusta, que combina infraestrutura, formação docente e currículo integrado, colocando João Pessoa como referência nacional em educação tecnológica. E, enquanto montam submarinos e programam sensores, essas crianças também constroem pontes — entre o brincar e o aprender, entre o presente e um futuro mais justo, tecnológico, criativo e sustentável.

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