Virou um clichê da indústria audiovisual. As histórias mais escabrosas do mundo acabam ganhando, mais cedo ou mais tarde, algum documentário longo demais narrando nos mínimos detalhes os bastidores das tragédias cotidianas.
A tendência se alastra por todas as plataformas de , mas a Netflix é ponta de lança. Possui verdadeiras franquias, inclusive temáticas, como é o caso de “Untold”, especializada nos causos envolvendo o mundo dos esportes.
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Em sua fornada mais recente, chama muita atenção “A Namorada que não Existiu”, minissérie em dois episódios que estreou no meio de agosto. Narra a ascensão espetacular de Manti Te’o, fenômeno do americano que parte rumo ao oblívio após uma sucessão de bizarrices.
O rapagão passou meses trocando mensagens com uma suposta cidadã que na verdade era secretamente era Ronaiah Tuiasosopo, jovem que à época se encontrava cheio de angústias e incertezas a respeito da própria sexualidade.
Como nas famosas comédias de Mike Myers, a falsa namorada virtual interpretava vários papéis em ligações de voz e improvisava os melhores motivos para nunca mostrar o rosto em vídeo. E da mesma forma que ocorre em Austin Powers, o desenvolvimento dessa história não apresenta razões para sorrir.
Após um longo envolvimento afetivo pela internet, Ronaiah começou a ficar sem saída em suas desculpas para não encontrar com o amado. Resolveu o problema matando a personagem após uma longa batalha contra um câncer ficcional.
A notificação do óbito especulativo veio junto com uma perda real de Manti: no dia da morte de sua avó. O rapaz ficou abaladíssimo, mas resolveu continuar treinando e jogou em homenagem às duas. A força da atitude virou inspiração e notícia nacional.
Eis que alguns jornalistas começaram a pesquisar o background da namorada virtual com mais empenho que o suposto viúvo e não tardaram em descobrir a frágil narrativa inventada por Ronaiah. Bem na época em que o jogador estava no auge, cotado para defender grandes times da NFL.
A evidencia os perigos do flerte online, assim como a irresponsabilidade da imprensa ao cobrir determinados fatos de foro íntimo, prejudicando a vida profissional de jovens promissores.
Aliás, a Netflix foi quem popularizou a estratégia de alongar demais a narração de alguns crimes para conquistar mais minutos de engajamento, mas parece que está fazendo um esforço para otimizar nosso tempo.
Além de Untold, outros bons lançamentos recentes são razoavelmente mais enxutos, ainda que as histórias coubessem perfeitamente em um TikTok: “Eu matei meu pai” e “Desastre Total: Woodstock 99” vão direto ao ponto para que a audiência tenha um vislumbre dos dissabores da vida alheia.
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